sábado, 11 de fevereiro de 2012

Rosa Bucólica


Todos os dias, como de costume, Rosinha acordava e abria a janela de seu quarto para que os raios do sol penetrassem nele. Mas na verdade, aquela rotina, nada mais era do que um ritual de “bom dia vida”. Bom dia a uma vida cheia de incertezas e expectativas, por algo que nem mesmo ela sabia o quê. Naqueles dias Rosinha estava com o coração angustiado, apertado, sentindo-se melancólica. Sua mente girava a mil por hora. Por isso, naquele dia resolveu mudar um pouco a sua rotina. Olhou-se no espelho e conversou com sua imagem refletida no mesmo. – Coragem mulher, coloca um corretivo nessas olheiras, causadas pelas noites em claro. Fique bonita, pois ninguém tem a obrigação de te ver assim tão pra baixo, liberte-se  desses seus sentimentos  bucólicos. Faça algo diferente hoje. Uma lágrima rolou do seu rosto, enxugou-a. Desceu as escadas e foi contemplar o seu jardim. Fixou o seu olhar para o pé de roseira, haviam ainda duas rosas vermelhas. Uma delas já estava quase se despetalando, mas ela não teve coragem de tirá-la. Começou a pensar na importância das flores para os beija-flores, insetos, etc. Analisou o lindo trabalho dos beija-flores e borboletas na polinização, contribuindo assim, para a continuidade das espécies vegetais. Concluiu que tudo que existe neste mundo não é por acaso. Um depende do outro e ás vezes um tem que morrer para o outro nascer. E observando a roseira viu que uma das flores estava com as pétalas velhas e ressecadas. Se sentiu  como aquela flor, que um dia foi admirada, cheirada, mas que agora estava ameaçada até mesmo por um simples vento, ou um sopro. O sol começou a queimar sua pele e incomodá-la, mas ela não foi para a sombra, pois precisava sentir aquele calor penetrando sua pele, queimando suas células, naquele momento nem se importou com o tal câncer de pele. Queria mesmo era sentir-se como uma planta que necessita do sol para a realização da fotossíntese.  Algo precisava ser queimado dentro de si. Sabia que o mesmo sol que ilumina e aquece a terra, também pode matar com seu fogo ardente. Mas naquele instante precisava matar esse sentimento de abandono. Abrir seu coração e deixar os raios fazer uma quimioterapia em todo seu ser. Precisava voltar a sentir a alegria de viver. Acordou dos seus pensamentos e voltou-se novamente para a rosa, viu que uma pétala havia se soltado. Ficou triste, pois imaginou seu jardim feio, vazio. Entrou, ligou a TV, e enquanto tomava seu breakfast ficou olhando em direção a mesma. Mas só olhando, porque sua mente estava muito longe. Talvez pensado nas filhas, marido, amigos, colegas, em si mesma. Ou naquela pétala caída??? O telefone tocou, ela não atendeu, por temer ser alguém indesejado, como algum operador de tele marketing. Voltou ao jardim. Ao se aproximar, notou que a pétala não estava mais no mesmo lugar, foi olhando em volta e viu a pétala sendo carregada por várias formiguinhas. Pensou. Vou acabar imediatamente com essa festa das formigas. Já estava com os pés em cima da pétala. Parou, pois um beija-flor tentava sujar o nectar da flor mais jovem. Uma lágrima rolou mais uma vez de seus olhos. E isso lhe fez refletir também sobre sua existência. Como se achou egoísta e desumana. Naquele momento, refletiu. Aquela pétala não serva mais para aquela roseira, pois está sem cor, sem cheiro, sem vida, mas serve para quem precisa dela. “Essa pétala sou eu”.
                                                                    (Carmem Almeida)

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